O ALARME TOCA: POR QUE OS MILHÕES DE AFASTAMENTOS POR SAÚDE MENTAL EM 2024 NÃO PODEM MAIS SER IGNORADOS?

Por Luciane Ramos

O ano de 2024 nos trouxe um dado que, por si só, deveria acender um alerta máximo em cada organização brasileira: mais de 3,5 milhões de benefícios por incapacidade temporária foram concedidos pelo Ministério da Previdência Social. E o que realmente nos impacta, e deve impactar sua empresa, é que uma “parte expressiva desse montante se refere a diagnósticos de transtornos mentais”, conforme o documento Afastamentos 2024.

Este número não é apenas uma estatística fria; é um retrato vívido de uma crise silenciosa que tem tomado conta dos nossos ambientes de trabalho. Os relatórios são claros: “as licenças médicas por transtornos mentais aumentaram muito nos últimos anos”, e isso reflete não apenas uma maior demanda por auxílio, mas também “possíveis mudanças nas condições de trabalho e na percepção social do problema”.

A Crise Silenciosa que Ninguém Quer Ver

Vivemos em uma era onde a saúde mental está finalmente ganhando a visibilidade que merece. No entanto, ainda estamos longe de transformá-la em uma prioridade estratégica com ações concretas e eficazes. O nosso material de pesquisa aponta que, entre os diagnósticos mais frequentes, estão a depressão maior, o transtorno de ansiedade generalizada, transtornos do humor e o esgotamento profissional, mais conhecido como burnout. É crucial entender que essas não são “frescuras” ou “fraquezas individuais”, mas condições sérias que impactam diretamente a produtividade, o engajamento e, em última instância, os resultados do seu negócio.

Ainda que “pesquisas globais apontem que depressão e ansiedade figuram entre as principais causas de incapacidade laboral”, o Brasil, infelizmente, “ainda carece de estatísticas oficiais detalhadas por subcategoria”. Isso significa que a magnitude real do problema pode ser ainda maior e mais complexa do que os dados atuais nos permitem ver. Especialistas e médicos do trabalho já alertam para o alto volume de afastamentos relacionados à ansiedade crônica e ao esgotamento mental.

O Paradoxo das Boas Intenções: Por Que Nossos Programas de Bem-Estar Estão Falhando?

Muitas empresas, com as melhores das intenções, implementam programas de bem-estar, oferecem palestras ou até mesmo assistência psicológica pontual. No entanto a escalada dos números sinaliza que iniciativas em curso foram insuficientes para conter o aumento das licenças por saúde mental.

Por que isso acontece? Um dos pontos críticos destacados é a “falta de métricas concretas para avaliar a eficácia desses programas”. Como podemos saber se estamos no caminho certo se não medimos o impacto real das nossas ações? Além disso, “ações pontuais (como palestras ou assistência psicológica eventual) podem não reduzir efetivamente o absenteísmo”. É como tentar apagar um incêndio florestal com um copo d’água – a intenção é boa, mas a ferramenta é inadequada para a escala do problema.

Pior ainda, a “transformação digital acelerada trouxe, em alguns casos, maior sobrecarga mental e dificuldade de ‘desconectar’”, o que pode anular os benefícios de outras medidas, como o home office híbrido ou a flexibilização de jornadas. A modernidade, se não gerida com consciência, pode se tornar um novo vetor de estresse.

A Hora da Virada: O Que Fazer Além do Óbvio?

Se sua empresa está comprometida em reverter essa tendência alarmante, é preciso ir além do superficial. Não se trata apenas de oferecer um benefício, mas de construir uma cultura de apoio e prevenção. Embora programas de saúde mental e serviços de apoio psicológico online sejam benéficos, eles “exigem avaliação contínua de resultados” e sua adoção no Brasil tem sido “errática”.

É tempo de perguntar: Sua empresa está realmente preparada para enfrentar essa crise? Estamos medindo o impacto das nossas ações? Nossas iniciativas são integradas e preventivas, ou apenas reativas? A alta gestão está genuinamente engajada?

Os 472 mil afastamentos são um chamado urgente à ação. Não podemos mais ignorar os custos humanos e financeiros de uma força de trabalho esgotada. É preciso coragem para olhar para dentro, questionar as abordagens atuais e, de fato, construir um ambiente onde a saúde mental não seja apenas um tópico de palestra, mas um pilar inegociável da estratégia corporativa.

O futuro do trabalho e a sustentabilidade das empresas dependem disso.

Fontes: Estatísticas oficiais do Ministério da Previdência Social (dados INSS 2024) (g1.globo.com); estudos e artigos sobre saúde mental no trabalho (2023–2025) e reportagens especializadas.

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