Você investiu em programas de bem-estar, promoveu palestras sobre saúde mental e até ajustou as condições de trabalho. Parabéns pelas iniciativas!
No entanto, se os números de afastamento por transtornos mentais em sua organização continuam a subir, ou se você percebe uma equipe sobrecarregada e desengajada, talvez seja hora de olhar para as lacunas e falhas que, muitas vezes, passam despercebidas.O número de afastamentos em 2024 é um espelho implacável que reflete os desafios do cenário atual e aponta exatamente para onde precisamos direcionar nosso foco.
O Custo Invisível: Mais do que Apenas um Afastamento
Quando um trabalhador se afasta por depressão, ansiedade crônica ou burnout – diagnósticos que, estão entre os mais frequentes –, o impacto vai muito além da licença em si. Há um custo humano imenso, uma perda de talento e uma descontinuidade operacional que afetam a todos. O problema se agrava porque, muitas vezes há “estigma e subnotificação”. Trabalhadores muitas vezes não relatam dificuldades mentais por medo ou falta de entendimento, o que pode atrasar a intervenção e levar a quadros mais graves. Pense na pressão adicional sobre a equipe restante, na queda de produtividade e no clima organizacional que se deteriora silenciosamente.
A Armadilha da Reatividade: Combatendo o Incêndio, Mas Ignorando as Faíscas
Uma das falhas mais gritantes é a “reatividade excessiva”. Muitas empresas tendem a “focar nos casos após o ajuizamento do auxílio (como um afastamento já decidido), em vez de prevenção contínua”. É como se esperássemos a doença se manifestar em seu estágio mais avançado para então agir. Mas a saúde mental, assim como a saúde física, exige uma abordagem proativa e preventiva.
É preciso questionar: estamos apenas “enxergando medicação e internações”, ou estamos, de fato, construindo um ambiente que previne o esgotamento mental antes que ele se torne irreversível? A resposta, para a maioria, ainda é um “desafio”.
Por Onde Vazam Nossos Esforços? As Lacunas Críticas
Falta de Medição de Impacto: Muitas empresas lançam ações pontuais sem indicadores claros de eficácia, tornando difícil avaliar se os programas retardam ou reduzem licenças. Sem dados, sem direção. Como saber o que funciona e o que é apenas um gasto sem retorno?
Cobertura Incompleta: Os programas de apoio psicológico são louváveis, mas o alcance desses programas ainda é desigual; grandes empresas do setor privado reportam maior uso, enquanto pequenas/MEI muitas vezes não têm recursos. Isso cria uma vasta parcela da população trabalhadora desassistida, onde o estresse ocupacional é igualmente presente.
Integração Deficiente: Muitas iniciativas isoladas (ex.: palestra única ou convênio médico com psicoterapia básica) não se articulam a uma política global de bem-estar. A falta de coordenação entre RH, CIPA e a alta gestão resulta em uma “abordagem fragmentada”. A saúde mental não pode ser uma ilha; ela precisa ser um rio que corre por todas as áreas da empresa.
A Chave para a Transformação: Uma Abordagem Holística e Estratégica
Uma estratégia eficaz de saúde mental corporativa deve ser:
Integrada: Ações isoladas não bastam. É preciso uma política global que envolva todos os níveis da empresa, desde a alta gestão até as equipes de linha de frente.
Preventiva: Invista em treinamentos de liderança empática, comunicação interna que reduza o estigma e programas de promoção de qualidade de vida (atividade física, mindfulness, incentivo a pausas). Mas lembre-se: essas não devem ser “iniciativas isoladas”, mas partes de um ecossistema.
Mensurável: Estabeleça indicadores claros de eficácia. Use pesquisas de clima, dados de absenteísmo, e até mesmo grupos focais para entender o impacto real das suas ações e ajustá-las quando necessário.
Contínua: A saúde mental não é um projeto com começo, meio e fim. É uma jornada contínua de cuidado, adaptação e aprimoramento.
Em suma, apesar de algumas empresas terem adotado programas de apoio psicológico e ajustes de jornada, as falhas em escala, abrangência e eficácia desses esforços apontam que o ambiente de trabalho brasileiro continua pouco preparado para reduzir concretamente os afastamentos motivados por problemas de saúde mental
Sua empresa tem a chance de se destacar, não apenas por cumprir uma obrigação, mas por criar um ambiente de trabalho verdadeiramente humano e produtivo. Não ignore as lacunas; preencha-as com estratégia, empatia e compromisso real.
Fontes: Estatísticas oficiais do Ministério da Previdência Social (dados INSS 2024) (g1.globo.com); estudos e artigos sobre saúde mental no trabalho (2023–2025) e reportagens especializadas.





